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Paixão culinária.

Linete andava pelo centro da cidade, o destino era o mercado público municipal, onde compraria iguarias para sua nova empreitada gastronômica. Na verdade não era uma expert na cozinha, mas se atrevia, e por ele tudo valia a pena. Ele era inalcansável, morava longe e nem ao menos a conhecia, era um chef de cozinha bonitão norte-americano que fazia suas receitas simples e deliciosas todas os dias na televisão. Ela não perdia um programa sequer.

A intimidade era tamanha que ela já até o chamava pelo apelido, e aquele dia era dia de receita apimentada, com muito curry, eles adoravam, ela e o chef. No mercado público escolheu ervas, massas integrais, cogumelos, tudo pronto para sua iguaria, tudo pronto para o encontro com seu cozinheiro. Voltou para casa correndo, faltavam poucas horas pro jantar, pra hora sagrada do programa do chef Cris, e ela ainda deveria parar e comprar duas garrafas de vinho, uma pro molho e outra para degustar enquanto seu encontro acontecia.

Ela era comprometida, e quem no final das contas sorvia o manjar dos deuses indicado por Cris e preparado por Linete era o marido. Ele chegava cansado do trabalho, sentava-se a mesa super satisfeito pelo esforço quase diário que sua mulher fazia preparando-lhe pratos dos mais diversos e sobremesas das mais suculentas. Para Linete era uma fantasia, brincava de cozinheira, satisfazia seu esposo, e sentia-se praticamente ao lado de Cris.

Quando chegou em casa Linete abriu um dos vinhos, serviu uma taça e preparou a mesa da cozinha com todos os ingredientes que seu chef no dia anterior já havia dito que usaria. Ligou a tevê e encantada suspirava com as primeiras palavras do culinarista:

– Boa noite, minha lindas telespectadoras, hoje faremos uma massa apimentada com cogumelos e curry.

E assim, flertando sem saber, Cris passou uma hora com Linete, que tomou meio litro de vinho até que o programa acabou, o marido chegou, e o jantar estava lindo. Com uma mesa toda decorada e a esposa já ligeiramente embriagada, o esposo abre um sorriso e é recebido assim:

– Oi meu amor, veja que linda receita que preparamos. – deu-lhe um beijo e completou – Eu te amo tanto, Cris.

Preparamos? Quem era Cris? Pos-se a pensar o marido quando a esposa tentou consertar.

– Cristais de Shiitake com pimenta indiana é o nome dessa receita, amor. Fiz pra você e só pra você.

O marido deixou passar, afinal, a mesa estava linda e pimenta esquenta qualquer rotina. Depois de comerem o delicioso jantar, foram pra cama, Linete, Cris e o marido, porque Cris… tais de Shiitake são afrodisíacos.

E os álbuns de fotografia?

Sou entusiasta da tecnologia, mas também sou extremamente saudosista, engraçado isso né? Lembro que na casa da minha mãe haviam diversos álbuns de fotografia e acredito que ainda hoje estejam lá, amarelando, e sem nenhum adicional de uns cinco anos pra cá. As fotos, o aspecto físico das fotografias, costumava ser motivo de horas e horas de conversas, quando acontecia uma visita, antigamente, a primeira coisa que faziam era trazer os álbuns de fotografia pra sala de estar e passear pelas memórias ali expostas. Quando o namorado ia conhecer a família da namorada a sogra colocava na mesa todas as fotos mais vergonhosas da infância da menina, atualmente o orkut se ocupa disso.

Hoje em dia com as câmeras digitais, com toda a tecnologia, com os sites de relacionamento hospedeiros de fotografias, é muito difícil ver alguém de fato revelar suas fotos, montar álbuns e scrapbooks, isso é chato. Ou só eu que acho isso chato? Aqui em casa tentamos manter viva essa chama, mas faz uns bons meses que não montamos um álbum pra ficar pra sempre. Fotos de viagens organizadas, todas juntas e com legenda, álbuns de bebê, álbuns de uma festa em família, isso tá cada vez mais escasso… e eu ando sentindo falta. Aliás sinto falta de algumas coisas que eram muito presentes até 10 anos atrás, tipo cds, fitas VHS, cadernos de desenho com papel de seda entre as páginas, coisas que a tecnologia substituiu. Acho que to ficando velha. São sintomas.

E viva São João!

Estamos no mês de junho e este deve ser o segundo mês do ano mais importante pra mim, aprendi isso com minha mãe que, aniversariante do dia 14 deste mês, sempre fez ele parecer uma grande festa. Em junho temos os “arraiás” e seus encantos. Ver as saias de quadrilha bordadas dançando juntinhas enche meus olhos, ouvir o narrador gritar “olha a coooobra” e depois “é mentiiiira” me arranca sorrisos sinceros e infantis, me sinto como se tivesse na festinha da escola dos meus 8 anos de idade. Na infância eu adorava ser miss caipira e depois que cresci acompanhava minha mãe se vestindo a cada aniversário, ela se sente a caipira mais miss da festa, e sempre é mesmo, a rainha do seu mês; agora tenho Maitê pra vestir e fazer pintinha no rosto, essa embonecação também me traz boas lembranças.

Junho pra mim tem até cheiro, o do banho cheiroso que mamãe sempre prepara pra se lavar e mandar embora com a água as coisas ruins. Na adolescência mesmo que eu relutasse e achasse cafona, sempre tomava um banho cheiroso, no fundo, no fundo acreditando que meus probleminhas iam embora com a água. E as comidas? Paçoca, vatapá, bolo de tapioca, munguzá, pé de moleque, bolo de milho, ai, quanta delícia, eu me farto sem pena e depois ainda jogo umas bombinhas no chão pra assustar a molecada.

As músicas, as danças, os cheiros e as lembranças, junho de tantas esperanças, um mês que eu quero que seja sempre maravilhoso e colorido, pra eu nunca esquecer de ter o coração sempre festivo, como mamãe me ensinou.

Quadrilha

"...eu fiz uma fogueirinha..."

Poetando.

ETERNO EQUILÍBRIO.

E quando esperava, temia, sofria, fingia.
E quando sentia só sorria, queria, vivia.
O que faltava era o equilíbrio, a razão mais emotiva.
O que faltava era a junção, a mais emotiva razão.

E quando o viu, tremeu as pernas.
Era um sinal, talvez fatal.
E quando o abraçou trocou calor
Era só o amor, equilibrou-se afinal.

Nada mais importava naquela tarde escaldante.
Ela podia chamar-se sorriso contagiante.
Ele era o contrário, racional, pensava e vivia, então.
Mas sabia que era ela, a menina, a emoção.

Eram dois, em pouco tempo se fizeram um só.
Agora são três, floresceu, por certo muito melhor.
E o final dessa história, esse não há de chegar.
Porque o amor vigora, e pra eles não há de acabar.

Ju Maués, 22 de Junho de 2010.

Indignação!

Ainda estou transtornada com as imagens que vi ontem no Jornal Hoje: uma mãe cigana teve a filha de um ano e dois meses arrancada dos braços em cumprimento a uma ordem judicial em Jundiaí, SP.  O que consta é que a mulher andava pelas ruas lendo mãos e pedindo algum trocado por isso. Teria sido feita uma denúncia anônima de exploração infantil para o juizado da infância e juventude. O fato da denúncia ter sido feita, até vá lá, tem gente que não tolera esse tipo de atividade, mas o que chocou de fato foi a maneira como a criança foi tomada da mãe. Absurdo, acho que não só eu, mas milhares de brasileiros, pais ou não, ficaram chocados com a brutalidade, crueldade, falta de cuidado, sei lá quais outras palavras exprimiriam tamanha falta de tato da nossa Guarda Civil.

As condições de trabalho da mãe cigana são aquelas. Por sua cultura e estilo de vida ela lê mão nas ruas e tem que ficar com a filha no colo mesmo, uma é a companhia da outra, a vida da outra, ela não roubava, pedia, e se a criança estava exposta é uma questão de falta de amparo do ESTADO para com a mãe e ela. A menina estava bem vestida, no colo da mãe, e o mais importante, saudável. Não se tira uma criança de 1 ano e 2 meses dos braços da mãe desse jeito. O sofrimento das duas foi explícito, mãe e criança choravam compulsivamente quando foram separadas, a menina agarrava a mãe, e ao ser levada estendia os bracinhos querendo a mãe de volta. A dor das duas chegou a mim de tal forma que até agora está me doendo.

Havia sim outras maneiras de abordagem, havia sim como levar as duas, mãe e filha, a um abrigo, juntas, se estavam na rua, tentando sobreviver, AMBAS precisavam de amparo, JUNTAS! E me digam, se a ordem era se fazer cumprir os direitos humanos, como a Guarda Civil leva a criança no banco da frente de uma viatura policial e mais, sem cinto de segurança? ABSURDO!

Só um desabafo!

minhas rimas probes… ou pobres.

Vou postar o que escrevo quando a aula de psicologia não tá me agradando…

” O meu olhar pra dentro se depara com um turbilhão

Enquanto olho me reinvento, não sou uma sou um milhão

Um milhão de emoções, um milhão de cicatrizes

Aquela que pede atenção, que cai em seus próprios deslizes

Sou minhas convicções, desejos e covardias

Sou crença renovada, esperança nossa de todo dia. ”

” Por mais que defeituoso

Por mais que anormal

Aqui sou mais as flores

Espinhos não fazem tão mal

Todos os altos e baixos

Todas as quedas e mais

Eu prefiro a aurora

Os bons momentos vitais”

” A arte de conviver

O feliz bem viver

Depende do amor maior

O nosso, eu e você

As coisas que virão pesar

Os erros que serão cometidos

Serão o tempero de tudo

Pimenta pros nossos sentidos”

Ju Maués (15-03-2010)

MINHAS RIMAS POBRES, POBRES, POBRES, DE MARRÉ MARRÉ MARRÉ, POST PARA COMPENSAR A FALTA DE INSPIRAÇÃO E AUSÊNCIA.

minha herança musical

Lembro  que desde sempre ouvi muita música, as boas e as ruins, as boas pra mim e ruins pra você e vice versa. Nunca fui muito racional para o que meus ouvidos absorvem musicalmente falando. Quando criança era Trem da Alegria pra cá, Xuxa pra lá, Sandy e Junior em pencas, enfim, toda e qualquer sorte de músicas infantis da moda, inclusive Seu Boneco – A festa! A culpa disso foi sem dúvida dos meus pais, eles que a vida inteira nos deram acesso à cultura indiscriminada e muito, mas muito amor, quanto mais melhor.

Um belo dia, lá pelos idos dos meus 7 anos de idade, achei na estante da sala dos meus pais um disco de vinil muito bonito, cheio de atrativos, capa e contra-capa que se sobrepunham, ele se chamava “Mais”, de uma tal de Marisa Monte. Brinquei tanto com aquele vinil, e minha mãe gostava tanto de ouvi-lo, cantava com tal empenho que me deixava admirada. Daí, passados mais uns dois anos, avistei mais uma dessas coisas que meus pais ouviam sempre, especialmente finais de semana, tomando uma cerveja e fazendo tarefas domésticas. Dessa vez era um cd, que tinha dois ursinhos na capa, verde, rosa, toda colorida. Chamava-se “Eu e Memé, Memé e eu”, era Lulu Santos. Tinha uma música chamada Sereia que eu adorava. Foi nessa fase que comecei a esquecer o Trem da Alegria, mas, Sandy e Junior ainda ficou um bom tempo em meu setlist. xD

O que de fato importa é o que vem agora: era ano de 1997, morávamos em BH, meu pai fazia o Doutorado lá, minha mãe era dona de casa e cuidava dos três filhos, eu tinha uns 11 anos, minha irmã uns 6, e meu irmão era recém-nascido. Meus pais eram novos e tinham poucos amigos, os poucos da academia, companheiros de estudos. Vira e mexe tinha uma reunião em casa para que aquele povo sem família por perto se unisse e se sentisse mais acolhido, nossa casa sempre foi muito acolhedora porque somos calorosos e muito amorosos. Não esqueço um só detalhe das trilhas sonoras que embalavam aquelas noites, lá pelas tantas meu pai colocava uma música de introdução engraçada, e já tendo tomado algumas cervejas gritava meu nome e o da minha irmã:

– Ju, Aniiita, venham aqui ouvir a música que o papai vai colocar pra vocês, é de criança, ouçam aqui. – e começava a canção.

“In the town where I was born
Lived a man who sailed to sea
And he told us of his life
In the land of submarines…”

Tá, a gente não dava muita atenção aos detalhes, mas, nunca mais esqueceríamos aquela canção, e nenhuma outra dos Beatles, porque dessa forma todas elas nos foram apresentadas, se não como música infantil, como “a música preferida do papai” e eram tantas… Foi nesse mesmo período que um amigo do meu pai me mostrou o primeiro cd do Los Hermanos, a música era Ana Julia, o nome da então namorada dele, e ele era tão efusivo que aquela se tornou minha banda preferida, até o final da adolescência.

Não esqueço também o dia em que meu pai me colocou para ouvir com ele Lobão no último volume, a música eu não lembro bem qual era, mas desde então passamos a fazer isso sempre, não só na sala de casa, mas no carro. Ahhhh as viagens de carro com meu pai, elas merecem atenção especial. Eu, ele, minha irmã e nossa babá fizemos uma viagem BH – Belém ouvindo Roberto Carlos – Em ritmo de aventura, claro que nós revezámos com os discos do Lulu Santos, um das chiquititas, um de histórias, Rolling Stones, mas o mais legal era o Robertão e nós cantando alto, inesquecível. E as sextas feiras? Todas as sextas feiras eram dia de ouvir música alta na volta pra casa, meu pai cansado da rotina de uma semana cheia de trabalho chegava em casa sempre como som no máximo volume, com Janis Joplin, Queen, Rolling Stones,  gritando nosso nome, cantando alto, e minha mãe reclamando:

-Manda o teu pai baixar esse som, pelo amor de Deus. – eu adorava e ficava admirada na janela do meu quarto, isso quando não saía com ele para a última volta!

No final das contas esse post é um agradecimento à meus pais, por terem me ensinado tanto, não sei se por querer ou sem querer, mas, formaram minha consciência musical, ou o amor que tenho pela música, que nem sempre é consciente ou racional. Um dia eu li que o que educa de fato é a combinação de cultura e afeto, e isso nós tivemos de monte.

N’ovo!

Ninguém sabe o que há dentro do ovo até o partir da casca. Se sairá um pinto formado ou, só o projeto de pinto: clara e gema. Parece simples e é, mas, pode ser deveras complexo. N’ovo pode ser assustador, tipo um pintinho deformado, pode ser podre, tipo aquele fedor insuportável, pode ser o fantástico milagre da vida, ou o alimento que nos mantém seguindo. Daí a surpresa, a novidade.

Experimentar o novo. É aí que reside minha tentativa “marromeno” de metáfora, aliás eu nunca fui boa com metáforas. Diante do novo nós, seres humanos dotados de sentimentos e de alguma razão, (que merda pra quê razão?) reagimos de formas diferentes. A casca se parte e de repente nos vemos experimentando algo que pode ser vital ou apavorante, saboroso ou doído, belo ou feio, mas, que nos move e nos obriga a viver, enfrentar ou até esmorecer.

N’ovo que me é apresentado agora há aquele pintinho bem formado que se transformará no galo mais forte, o dono do poleiro. Me inspira, me faz acreditar que eu consigo e vou passar pelo que for preciso para ser plena. Meu n’ovo talvez seja até de pavão, me dá uma coragem que estufa meu peito e me faz abrir as penas dizendo: Agora que eu saí da casca ninguém me segura.

p.s.Eu nunca vi um ovo de pavão.

uhuuuuuu, beijoseliguem!

eu que sou a mãe.

Inocência da minha parte achar que sou a única mãe super encucada com meu desempenho de primeira viagem. Tenho grilos naturais, mas acho que me comporto bem como mãe, sabe aquela coisa de nasci pra isso? Quando engravidei da Maitê não tinha idéia do que aconteceria, mas sabia que tinha que assumir o que estava por vir. Sei que muita gente ao meu redor achou que meu desempenho não seria dos melhores, primeiro por me julgarem muito nova, segundo por me julgarem imatura, terceiro por gostarem de meter o bedelho na vida dos outros, enfim… Eu nunca entregaria minha filha nas mãos de terceiros para que cuidassem e educassem por mim. Se tem uma coisa que eu sou é ciumenta, jamais deixarei ninguém palpitar sobre como as coisas com minha filha têm que ser feitas, a não ser o pai dela que, é claro, tem forte participação e responsabilidade sobre o desenvolvimento da Maitê.

Quero sempre fazer tudo sozinha e do meu jeito, e pra mim isso não é defeito é qualidade, só dessa forma vou aprender e ensinar, não é? Foi assim com todas as mães e sempre será, então não admito que interfiram de maneira nenhuma na criação que eu e Eduardo daremos à Maitê. Egoísmo, talvez, com algumas ressalvas, admito que tenho minhas dúvidas quanto à eficácia dos meus métodos, e isso é o que me deixa insegura às vezes. Coisa que dá e passa loguinho quando vejo Maitê linda, saudável e em franco desenvolvimento.

Sou do tipo de mãe cuca fresca, no sentido de que acho que ela terá o tempo dela e as evoluções são naturais, cabe a mim alimentá-la e proporcionar um ambiente saudável para que tudo aconteça. Ela chegou pra ficar, mas não tenho que mudar minha essência e personalidade, ou as coisas que eu gostava de fazer, só porque sou mãe, acho que tenho que levá-la para o meu mundo o mais naturalmente possível, as mudanças vêm com o tempo. Sou também o tipo de mãe que acha que o meu leite é o melhor alimento e se ela quiser mamar até os dois anos será maravilhoso, do tipo de mãe que adora dar carinho e ficar colada, ciumenta, e leoa, ai de quem diga qualquer coisa sobre ela, ou sobre o nosso relacionamento. Posso estar errada, mas essa é a mãe que eu sou, e aquele papinho clichê de mãe perfeita não existe.

Daí vem fulana e diz que eu preciso ensiná-la a andar, cicrana diz que eu preciso desgrudá-la de mim, beltrana que preciso parar de amamentar, que ela não come direito. PORRA: se tivesse algum problema ela não seria esperta, fofa, carinhosa, grande e saudável como é! Então guardem os palpites pra vocês e admirem o meu trabalho como mãe, que é doloroso, porém compensador e MEU, só meu.

Sempre achei que minha mãe é a melhor mãe do mundo e ela não é perfeita, errou muito, tem um monte de defeitos, mas me deu muito amor e fez com que eu a admirasse, isso que importa. Que fique claro que quero ser a melhor mãe pra Maitê e não para os demais, não preciso da aprovação de ninguém, só dela. Quando algo der errado eu saberei, ela me dirá. O que importa é o amor que tenho pra dar a ela, que é o maior do mundo, mal cabe em meu coração. Ela é um pedaço meu e do homem que eu amo, é o que de melhor eu tenho, então, por favor, admirem-na, mas importem-se com suas vidas. Se eu precisar de ajuda ou conselho eu peço.

Beijoseliguem!

Tudo começou nos idos de 1997. A menina e sua família se mudaram de Belém para Belo Horizonte para que o pai se fizesse doutor. Até aí tudo bem, ela tirava mudanças de letra, não era nenhuma novidade. Além do mais o colégio novo era de arrasar. Ela adorava todas as novas sensações que experimentava no alto de seus onze anos. A nova cidade, o novo clima, o novo colégio e os novos amigos, para ela todos sempre seriam maravilhosos amigos. Sempre foi apaixonada por gente, quem a conhece sabe que ainda é e sempre será, mas foi nesse clima de mudanças que a menina viveu sua primeira decepção amorosa.

O colégio era de classe média alta e ela uma estranha no ninho buscando se adaptar. Morena, baixinha, gordinha e de óculos na cara, ela era um prato cheio para as gozações dos amiguinhos. Mas não se intimidou até o dia que se apaixonou pelo garoto mais engraçadinho da turma. Seu nome era Pedro e tinha o coração de pedra. A menina tentou se aproximar contando, com seu sotaque chiado, histórias de sua terra natal. O menino com o coração de pedra pôs-se a caçoar da fala diferente que escutava e o fez com tanto esmero que largou cusparadas na cara da menina.

Indignada com o acontecido e sofrendo de coração partido, ela levou o assunto aos pais que, muito sábios, a aconselharam a o chamar para um bate papo no qual ela explicaria de onde veio e porque o sotaque, sem agressões, nada como a velha e boa conversa diplomática. Ela assim o fez e começou a explicar tudo, tim-tim por tim-tim, mas o garoto veio com a pergunta fatal:

– Onde fica isso, na floresta? Lá em Belém tem jacaré e macaco passeando pela rua?

A menina virou as costas admirada com tamanha ignorância e fez para si mesma uma promessa que talvez nunca cumprisse:

– Só vou me apaixonar por homens inteligentes que no mínimo saibam geografia.

O destino sabe bem o que faz.